Aprender Design

10 de set de 2024

Perguntas, Respostas: Tamires Mazzo

Bia Varanis

Head de Conteúdo

Quem são os alunos e professores que fazem parte da Aprender Design? Na série “Perguntas, Respostas”, buscamos apresentar as trajetórias e as referências criativas de pessoas que formam a nossa comunidade. 

Conheça Tamires Mazzo, Designer Editorial na Editora Abril e nova professora da escola com o curso Construindo Narrativas e Apresentações.

Poderia falar algo que você acredita que te define bem para quem não te conhece? Uma característica, um hobby, uma frase… 

Tenho aqui uma frase do Alejandro Zambra, no livro: Formas de volver a casa.

"Sabía poco, pero al menos sabía eso: que nadie habla por los demás. Que aunque queramos contar historias ajenas terminamos siempre contando la historia propia."

Qual a sua trajetória no design? 

Eu me formei na FAU-DESIGN Mackenzie em 2015, mas começo a contar toda a minha trajetória quando comecei a faculdade em 2012, passei por lugares que me fizeram a profissional que sou hoje e que sou muito grata. Durante a faculdade trabalhei no Sesc Pompéia como educadora de arte, na TV Cultura, na computação gráfica e fiz parte da Jr. do Mackenzie. 

De 2015 para 2016, quando me formei, tive bastante dificuldade em arrumar emprego. Foi um tempo bem difícil em questões políticas no Brasil então comecei a dar aulas particulares de Design. E foi um sucesso, tive muitos alunos e que até hoje alguns são meus amigos próximos.

Em 2018, decidi sair por um tempo do país e fui estudar fora, em Portugal, onde me formei como mestre em Design Gráfico e Projetos Editoriais na Belas Artes do Porto. Antes disso, no Brasil, trabalhei como designer na The Body Shop, na WGSN (onde trabalhava apenas com apresentações, e em uma agência de publicidade). 

Acredito que meu tempo em Portugal e Espanha mudou muito meu estilo de trabalho. Trabalhei em dois lugares em Portugal, fiz muitos freelas nesse período também.

O marco principal de carreira e mudança de objetivos foi 2021, quando consegui um estágio pelo programa Erasmus + Europeu em Córdoba, cidade na região de Andaluzia na Espanha e trabalhei como designer editorial. Dali as portas pro editorial abriram, participei da feira do livro do Porto em 2022 - pela Feira da Alegria. Mas antes, em 2021 mesmo, mandei muitos e-mails e recebi a resposta da Editora Relicário de Belo Horizonte que me convidou para uma colaboração de trabalhos.

Desenvolvi a primeira coleção dedicada à autora Marguerite Duras pela editora, muitas capas de livros, muitos projetos gráficos editoriais. E com essa expertise do editorial, comecei a desenvolver sites também, e fiz o site da Coleção Antonio Candido para a Todavia. Durante esse período, entre 2021 até meio ínicio deste ano, trabalhei como estrategista de marca para o estúdio Rebu, no time incrível da Camila Mattos, junto com profissionais de peso, Satsuki Arakaki e Pedro Alamorim e agora estou como designer editorial na Editora Abril.

Além de tudo isso, também dou aulas. Este ano, já administrei dois cursos pro Instituto de Arquitetos do Brasil - São Paulo. Dei aulas por um semestre, como assistente, na disciplina "Design, espaço, ambientação" no curso de Design na FAU-USP, administrado pela professora Clice de Toledo Sanjar Mazzilli.

Enfim, para fechar, gosto de dizer que eu sou bem generalista e multidisciplinar. E amo, amo mesmo, trabalhar com palavras.

Você fez mestrado em Portugal, se especializando em design editorial. Como foi essa experiência?

Foi uma experiência muito importante para amadurecer meu estilo de trabalho. Antes ele não era muito consolidado, acredito que o mestrado abriu muitas portas, principalmente dentro de mim, sabe?

Eu descobri que tenho minha metodologia de trabalho que consiste em contar histórias. Gosto dessa base que pode parecer óbvia, mas ela precisa ser bem estruturada. Bem pensada. Ter repertório e um olhar cada vez menos ocidental. Apesar de algumas das minhas referências serem europeias, elas são referências que desnivelam esse olhar europeu centrado.

Mas não foi só o mestrado em si que fez esse amadurecimento acontecer, foi a experiência no geral. Conhecer pessoas, criar novas famílias.

Namorei nesse período uma pessoa muito especial, do cinema cearense e aprendi bastante com ele. Com isso o audiovisual se tornou também parte do meu repertório. 

O mestrado fora é bem diferente do que a gente tem como referência aqui, somos com certeza muito mais profundos e técnicos, mas tive muita sorte de ter um orientador incrível, o professor e também ilustrador Rui Vitorino. De ter conhecido pessoas ricas de coração e ter acreditado no potencial do meu trabalho. Foi uma soma de muitas coisas nesses 5 anos vivendo em Portugal e Espanha. E 2 de mestrado.

Desenvolvi no mestrado, junto a dissertação, o fotolivro Histórias que Contam as Marés que aborda as histórias de 8 mulheres imigrantes da América do Sul na cidade do Porto. E tenho muito orgulho desse trabalho. Ele é a consolidação do meu amadurecimento, como designer e como Tamires.

Qual a parte mais legal de trabalhar com livros?

Livro é o único objeto-publicação que não tem publicidade, né? Tem coisa mais libertadora que isso? Deixar no mundo um legado mesmo. Trabalhar com livros pra mim é a arte dando continuidade a contar histórias - é o registro das pessoas, sabe? Eu acho isso poderoso demais. 

Um dos conceitos do seu curso Construindo Narrativas e Apresentações é de que o design pode ser uma ferramenta importante para criar narrativas e contar histórias. Pode comentar um pouco de como foi pensar esse curso e o que as pessoas podem esperar dele?

 

Esse curso está sendo pensado por quase um ano, foi um trabalho conjunto com a Aprender e deixamos ele redondinho pra fazer sentido.

Quando trabalhava como estrategista no Rebu todos os clientes elogiavam o storytelling - ou melhor - a narrativa das apresentações.

E sempre que eu elaborava essas apresentações, eu pensava numa ordem, que no editorial, chamamos de ritmo editorial. Na academia a mesma ideia, é quando você cita algo lá na frente pra no final fazer sentido.

Nada mais é que uma forma de contar histórias, e não jogar tanta informação em um lugar só e aquilo ficar congestionado a ponto de ficar não legível para quem está lendo.

O curso parte desse lugar. Como organizar esse pensamento? Essa ideia que preciso apresentar.

Pode compartilhar com a gente alguma referência ou algo que você curta muito na sua área? 

Na verdade eu não olho muito pra referências só do design, então vou por tipo de trabalhos:

Filme

Gostaria que todo mundo um dia assistisse o filme da Agnès Varda Salut Les Cubains, que é um fotofilme pós Revolução Cubana. É um dos trabalhos dela que acredito que tirou o olhar centro-europeu.

Literatura 

A revista SUR, que foi uma revista latino-americana, de 1931, onde fez as primeiras traduções de obras de ainda não tinham sido traduzidas pro castellano. 

Leiam Ziraldo, ele é o melhor contador de histórias de todos e meu livro favorito é Uma Professora Muito Maluquinha. Nele dá pra aprender muito como olhamos pro mundo e a riqueza da criatividade sendo trabalhada na educação.

E Elena Ferrante, Amiga Genial é emocionante pois tudo ali é muito muito bem contado.

Música 

Emicida

Pra mim, na atualidade o melhor músico que temos, e o Amarelo, tanto o álbum quanto o documentário, é isso sabe, é a arte contando a história que deveria ser contada.