Aprender Design

9 de ago de 2024

Perguntas, Respostas: Rafaela de Prada

Bia Varanis

Head de Conteúdo

Quem são os alunos e professores que fazem parte da Aprender Design? Na série “Perguntas, Respostas”, buscamos apresentar as trajetórias e as referências criativas de pessoas que formam a nossa comunidade. 

Conheça Rafaela de Prada, Diretora de Arte e Designer.

Oi, Rafaela! Pode começar nos contando algo que você acredita que te define bem para quem não te conhece? Uma característica, um hobby, uma frase…

Sou uma pessoa que me conecta com o que eu faço pra valer, seja como designer e diretora de arte, seja como performer, seja para criar conteúdo paras as redes sociais e por aí vai. Sou bem experimentalista e me interesso por várias coisas ao mesmo tempo.

Gosto de colocar quem eu sou no que eu faço e gosto que isso transpareça. Antes de tudo, sou uma mulher trans da periferia de Belém, tenho um status de Legendary na cultura Ballroom e acredito que meu trabalho é sobre incluir, ocupar e representar, seja lá o que eu esteja fazendo.

Pode me contar um pouco da sua trajetória no design?

Eu caí de paraquedas no mundo do design porque meu objetivo quando estudei Publicidade era ser redatora. Amo escrever, mas minha trajetória na faculdade acabou toda voltada para a comunicação visual.

Tive um estágio na Oficina de Criação da UFPA que realmente abriu meus olhos pro design gráfico. Lá criamos identidades visuais e projetos editoriais para a universidade e toda a comunidade ao redor.

Em paralelo sempre me envolvi com performances e danças urbanas, fiz cursos e participei de companhias e grupos por toda Belém. Isso me fez perceber que sempre gostei de arte urbana, seja dançada ou desenhada.

Em 2017 conheci a Ballroom e isso mudou minha vida. A Ballroom é uma cultura feita por e para pessoas trans, pretas e periféricas. Construí um ótimo networking quando perceberam que além de dançar, eu também fazia projetos gráficos. Na época, construí uma identidade para o Vogue Fever, maior evento da cultura na América Latina que rolava em Belo Horizonte, e aí percebi que conseguia conectar todas as minhas áreas de interesse.

Quando terminei a faculdade trabalhei na Secretaria de Comunicação do Estado do Pará, onde consegui atrelar o design à cultura regional. Ter nascido no norte do país me deu um background referencial muito cultural.

Na pandemia, acabei conhecendo muita gente mostrando meu trabalho virtualmente e isso me abriu portas para trabalhar em São Paulo com a SOKO.CX e atualmente com a Agência PROS.

Mesmo nesse mundo da publicidade, tenho um pé em projetos independentes, principalmente para o cenário da música paraense, trabalhando no Festival Psica e para diversos outros artistas.

O que é design para você?

Acho que design é uma das infinitas formas de contar histórias. É sobre dar voz para pessoas, comunidades, culturas e ideias, sobre o mundo e onde estamos nele, sobre a época que vivemos e sobre o que sabemos do que já passou e como queremos projetar o futuro.

Falando do meu trabalho, fazer design é sobretudo contar a minha vivência, trazer as minhas referências e contribuir em diferentes escalas para algo significativo. Fico muito empolgada quando vejo algo e consigo entender os pontos por trás do produto final, por isso acho que design é também sobre processo e construção.

Tem algum trabalho no seu portfólio que você curtiu muito fazer e gostaria de nos contar sobre?

Tenho vários que gosto muito, mas o projeto "Um Lugar Ao Sol" que desenvolvi na SOKO.CX pra Dove tem um lugar especial no meu coração. Trabalhei com uma equipe enorme coordenada principalmente por mulheres e tive a oportunidade de desdobrar uma identidade visual com pessoas que sempre fui fã, como Du Nieto (professore do Aprender Design).

Queríamos falar sobre a democratização da praia para corpos grandes e sobre o empoderamento dessas pessoas no verão, tudo isso através de uma cadeira de praia que abraçasse corpos de diferentes pesos e medidas. Acho que a parte mais legal além de projetar a cadeira foi criar o quiosque de Dove na Praia do Leme, no Rio de Janeiro, onde alugamos as cadeiras e geramos mesas de conversas sobre temas como gordofobia, verão, identidade e por aí vai.

A maioria da equipe tinha local de fala sobre o assunto, o que fez com que a gente espelhasse o projeto como aquilo que gostaríamos de ver ou produzir. O projeto ganhou vários prêmios, inclusive um Cannes Lions.

Pode compartilhar com a gente alguma referência ou algo que você curta muito na sua área? 

Em janeiro desse ano fiz um vídeo no meu Instagram falando da necessidade de ver pessoas trans sendo citadas como referências no mercado criativo. Trouxe o trabalho de 4 mulheres que sou muito fã: Roma Joana, Iryna Leblon, Rafaela Kennedy e Auá Mendes.

Bato sempre nessa tecla porque minha existência é política, o lugar que eu ocupo é representativo e quero ver mais pessoas como eu se enxergando e se inspirando, se vendo em outras possibilidades e roteiros que não sejam somente os que esperam para pessoas trans e travestis. Tá na hora da gente mudar totalmente essa história.

Mas não posso deixar de citar uma grande referência direta no meu trabalho: Willian Santiago. Éramos amigos e ele acompanhou muito do meu crescimento e curiosidade sobre design, ilustração e mercado. Ele sempre será o maior para mim.

Você foi estudante da escola. Pode contar um pouco da sua experiência ou algo que você mais curtiu?

Estudar na Aprender Design foi um sonho. Lembro que fiquei muito emocionada quando vocês me deram uma bolsa integral para cursar o Decodificando Identidades, senti muito apoio e incentivo pro meu crescimento profissional.

A identidade visual pra playlist "Braba" que fiz junto com o Lucas Ramos e o Matheus Franceschi é um dos meus projetos favoritos e foi onde eu consegui traduzir visualmente memórias e referências de ter nascido na periferia de Belém. Apesar de termos o tecnobrega como principal ritmo, acredito que todas as músicas experimentais de periferias se conectam de alguma forma.

O curso me ajudou a entender principalmente sobre processo criativo, tendências, trabalho em equipe e como vender meu peixe.

Acompanhe Rafaela de Prada no Instagram, no Linkedin e acesse seu site.

Aproveite para ler outras entrevistas:

Paula Brito, Sênior Designer na Work & Co.

Danielly Caetano, Designer Gráfica na Oliver LATAM e aluna da escola.

Lucas D'Ascenção, Designer gráfico, Diretor de Arte, Ilustrador e aluno da escola.

Renato Mendes, professor do curso de Estratégia de Produtos Digitais.