Aprender Design

30 de jan de 2023

Como se desenha uma bandeira?

bia varanis

bia varanis

Head de Comunicação

Bandeiras podem representar um lugar, uma organização, uma identidade. É por isso que o estudioso de bandeiras Michael Green conta, em seu TED Talk, que elas podem nos unir e nos dividir.  Existe uma ciência que estuda a história das bandeiras, seus usos e seus símbolos: A vexilologia, cujo termo foi criado 
por Whitney Smiths, 
designer estadunidense.

Em um breve contexto histórico: Bandeiras se desenvolveram a partir da heráldica – a arte de se desenhar os brasões de armas. Como um símbolo de identificação, eram feitas de palhas e outros objetos. Com a invenção da seda, os chineses foram os primeiros a fazer bandeiras de tecido e prendê-las lateralmente ao mastro, pois eram muito mais fáceis de carregar e mais fáceis de serem vistas à distância.

Bandeiras surgem então a partir de uma necessidade de identificação, representando em um primeiro momento monarcas, chefes de estado e demarcando amigos e inimigos em contexto de dominação. Também foram usadas na expansão marítima, como uma auxílio para navegadores no reconhecimento de embarcações em alto mar.

Laura Scofield, designer gráfica e membro da Associação Vexilológica da América do Norte, em entrevista ao Estado de Minas, afirma que as bandeiras são “o artefato mais poderoso já projetado. Elas são poderosas porque são símbolos visíveis da nossa identidade. (...) As bandeiras são dinâmicas. Elas comunicam ideias rapidamente, especialmente quando sobem aos céus.”

E como projetar uma bandeira?

Segundo a Associação Vexilológica 
Norte-Americana (NAVA), existem 
5 princípios básicos para se 
desenhar uma boa bandeira:

1. Manter a simplicidade.

Uma bandeira deve ser tão simples ao ponto que uma criança possa desenhá-la 
de memória. 

2. Ter um simbolismo claro.

Os símbolos, imagens e cores 
de uma bandeira devem relacionar-se entre si para expressar o que realmente querem representar 
ou transmitir.

3. Usar poucas cores.

Limitar o número de cores a não mais que três, para que sejam básicas e contrastem entre si.

4. Evitar frases e emblemas.

Nunca escrever em bandeiras ou colocar um brasão, selo ou emblema de uma organização.

5. Ser distintiva ou estar relacionada.

Não duplicar outras bandeiras, ao menos que a semelhança tenha uma relação histórica, regional, familiar.

Mais desses princípios podem ser lidos no livro: Bandeiras Bonitas, Bandeiras Feias: Como desenhar uma boa bandeira, um guia copilado por Ted Kaye, editor da Revista Vexilológica RAVEN. Disponível em português, com tradução de Tiago José Berg. 

Os elementos de uma bandeira:

O projeto Flag Stories traz dados interessantes para pensar a história das bandeiras de todas as nações, com curiosidades sobre proporções, composições, elementos e cores. 

Bandeiras são então um símbolo político 
e representativo, com poder de unir 
e dividir, incluir ou excluir. E como diz Laura Scofield, já citada aqui anteriormente: “Conseguimos aprender 
e discutir sobre história, geografia, sociologia 
e cultura por meio do 
design de uma bandeira.” 

A bandeira do Brasil: 

A bandeira do Brasil Imperial foi 
criada em 1822 pelo desenhista, pintor 
e professor francês Jean-Baptiste Debret. O verde representa a casa de Bragança, a de D. Pedro I. O amarelo refere-se a casa de Dona Leopoldina. 
No centro, o brasão imperial.

Com a proclamação da República, 
surge uma nova bandeira, parecida 
com a bandeira imperial. Feita por Oliveira Valadão.

A bandeira atual foi adotada em 1886, criada por Raimundo Teixeira Mendes, juntamente com Miguel Lemos, Manuel Pereira Reis, Décio Villares e Benjamin Constant. “Ordem e Progresso”, lema 
de inspiração positivista. O círculo azul, como um retrato do céu no momento 
da proclamação da república. Junto 
a 27 estrelas, representando os 
estados do país.

Se você tem interesse em se aprofundar no tema, deixamos aqui algumas recomendações: 

- Roman Mars, apresentador do podcast “99% Invisible”, sobre design e arquitetura. Disponível com legendas em português: Why city flags may be the worst-designed thing you've never noticed

- Michael Green, designer e estudioso de bandeiras. Disponível com legendas em português: How flags unite (and divide) us

- Artigo escrito pela designer Laura Scofield sobre como bandeiras comunicam ideias culturais, históricas e conceituais: Flags Happen: a critical discussion on Flags. A entrevista dela para o Estado de Minas também é uma boa leitura para conhecer seu trabalho.

-  Matéria do Nexo Jornal escrita por André Cabette: O que é uma boa bandeira? No Brasil, Estados têm bons exemplos. Municípios, não

- “Uma bandeira para Belo Horizonte”, por Gabriel Figueiredo. 

- Episódio “Bandeiras”, na terceira temporada da série “Explicando”, disponível na Netflix. Com entrevistas com estudiosos de bandeira, o episódio conta como um pedaço de tecido pode se transformar em um poderoso símbolo de amor, ódio, liberdade e opressão. Passando inclusive por questões históricas, como a bandeira da Etiópia, a primeira em um país nunca colonizado que depois se desdobra nas bandeiras pan-africanas. Vale a pena assistir!

Na capa do artigo: Fotografia de Tina Modotti. Mujer con Bandera. México, 1928.